
O novo trabalho tem sido considerado o mais maduro do Charlie Brown Jr. É reflexo de uma maturidade pessoal?
Essa maturidade vem com o tempo, é natural. Alguns conseguem vivenciar isso de maneira mais precoce, outros no tempo certo. Na minha vida as coisas aconteceram na hora certa. Pude viver minha infância, adolescência e todos os meus momentos com intensidade.
E hoje estou mais tranquilo, buscando qualidade de vida. Isso se reflete até no físico, estou mais magro, mais saudável. É um reposicionamento, mesmo, e não é apenas artístico. Minha vida mudou. Mas acho, também, que sempre tive um lado bom que não era reconhecido por conta das polêmicas. E, claro, as pessoas sempre preferem as polêmicas e banalizam o que havia de relevante dentro da banda, que tem uma trajetória de trabalho de 12 anos, sempre ascendente. Nos últimos cinco anos, lancei três DVDs, três discos e fiz um longa-metragem.
Então o trabalho agora é visto de outra forma?
Acho que, desta vez, o trabalho está sendo avaliado de forma imparcial, sem qualquer tipo de preconceito. A banda não para, temos uma música em primeiro lugar nas rádios, o disco novo é o mais vendido do Brasil, estamos com a agenda lotada de shows. Gostamos muito do que fazemos, trabalhamos com afinco, somos todos músicos de alma. O reconhecimento acontece em função de toda essa trajetória e não de um momento apenas.
Você fala de preconceito e de polêmicas. De que forma elas te afetaram?
Uma boa crítica sempre me faz refletir de modo bom. Mas a mudança não aconteceu em função das críticas, ela veio de forma natural, por uma necessidade pessoal. E, na verdade, nem acho que exista uma mudança tão grande. Sempre fui um cara de paz. Essa mudança aconteceu de um modo muito natural.
A referência mais óbvia para o novo trabalho é o futebol, claro…
O Camisa 10 Joga Bola até na Chuva é um modo de encarar a vida, um jeito de lidar com as coisas de uma forma mais amena. É a proposta do disco. As letras falam de superação, força de vontade, positividade. Nesse disco, minha maior preocupação foi de manter a unidade. Fizemos uma seleção cuidadosa, criteriosa em que música, letra e argumento teriam que conversar de forma harmônica e coesa.
Há uma música composta para a falecida cantora Cássia Eller. Como aconteceu?
Estive com a Cássia duas semanas antes de seu falecimento e ela me pediu a música para gravar. A Cássia era um gênio e deixou uma lacuna incrível. Mas não houve tempo de mostrar a canção. Como homenagem a ela, incluímos a faixa.
E a carreira no cinema, seguirá em paralelo?
O cinema é uma paixão. No ano que vem vou rodar um filme chamado O Cobrador. Tenho o roteiro pronto, estou cuidando da parte técnica. É uma atividade paralela que vou tocar em frente.
O cinema é uma paixão?
Curto há muito tempo. Gosto de cinema latino, dos bons europeus, de nacionais e de alguns hollywoodianos. Assisto aos filmes como espectador e também com um olho mais clínico, identificando corte, montagem, estética. No cinema, como na música, sou autodidata.
“Essa maturidade
é algo natural e
chega para todo mundo”
Como é seu dia a dia longe do trabalho?
Gosto muito de ir a shows das bandas que curto. Prestigio alguns amigos, como O Rappa, Seu Jorge. Vejo shows internacionais. No Carnaval, aproveito a fase em que há menos shows para viajar. Gosto muito de Nova Iorque, é uma cidade espetacular, com muita cultura, comida boa e o que fazer. E é a terra de um nova-iorquino nato que admiro muito, o diretor Woody Allen.
Que tem passado por uma crise, agora, em relação a essa identidade nova-iorquina…
Acho que está tentando só mudar um pouco a direção, experimentar. O Vicky Cristina Barcelona já aponta para isso, é um filme que poderia, perfeitamente, ter sido feito pelo Pedro Almodóvar. Ele quis fazer um filme europeu, com aquele timing próprio e sem muita neurose, apesar do personagem da Penélope Cruz. Ele foi muito bem nessa mudança, é um cara que só amadurece, em filmes como Match Point e até no Scoop. É um cara que muda para melhor.
A banda ganhou novos músicos e estreia, nesse disco, seu baterista, o santista Graveto. Como vê a nova formação?
Não são apenas excelentes músicos, são pessoas legais, e isso é tão importante quanto. O Graveto mandou muito bem. Ele trouxe uma pegada de rock’n'roll maior. O Thiago Castanho voltou à banda nessa fase de mudança e é fundamental, inclusive nas composições. E há o baixista, Heitor Gomes, que é filho do Chico Gomes e não nega a origem, desenvolve muito bem tudo o que já foi feito. Trouxe musicalidade, criatividade e segurança. O time é dos sonhos.
A identificação com Santos é sempre muito forte, não?
Essa é a minha casa. Quando falo de Santos nos shows e nas entrevistas fora, não me dirijo apenas aos fãs do Charlie Brown Jr. e sim para todos os santistas. À turma do surf, do Peixe, do skate. A todo mundo que está na rua, que respeita meu trabalho. Amo essa Cidade, tenho história aqui. Mas, apesar de sermos uma banda de Santos, tocamos pouco aqui, menos do que gostaríamos. Meu sonho, ainda não realizado, é fazer um grande show na praia, aberto, de graça, para todos os santistas, dando espaço para outras bandas de Santos. Seria histórico. E isso é, no mínimo, um recado.
www.charliebrownjunior.com.br
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